quarta-feira, 7 de novembro de 2007

Exposição de arte expressionista no RJ


Paisagem Brasileira


Depois de 20 anos, o Rio de Janeiro recebe novamente uma mostra de Lasar Segall (1891-1957), artista russo naturalizado brasileiro, e considerado um dos maiores expoentes da arte moderna brasileira. A retrospectiva “Corpo Presente” conta com quadros inéditos do artista, como “Retrato de Lucy”, comprado pelo governo da França em 1938 e que será visto no Brasil pela primeira vez, e “Ancião de Barba Branca”, exposto ao público pela primeira vez. Segall também é reconhecido internacionalmente como um dos maiores pintores expressionistas.

A mostra é uma homenagem aos 50 anos da morte do artista, e foi organizada pelo empresário Max Perlingeiro, diretor da Pinakotheke Cultural, galeria de arte em Botafogo, na zona sul do Rio. São 93 obras, entre pinturas, desenhos, gravuras e esculturas. “Segall era um artista muito completo e dominava todas as formas de expressão das Belas-Artes”, disse o empresário em entrevista ao SRZD.“A exposição abrange todo o período expressionista europeu até suas últimas obras, realizadas nos anos de 1950. Foram excluídas da exposição as obras de seu período mais soturno, inspiradas na guerra”, destaca Max.

Duas amigas

Além das obras de arte, estão expostas fotos e esboços do artista. Os visitantes poderão assistir ainda a um documentário com depoimentos de brasileiros ilustres, como Vinícius de Moraes. Um conteúdo multimídia, desenvolvido especialmente para a exposição, está à disposição do público na entrada da galeria.

Como forma de complementação didática, além de visitas guiadas para estudantes e um trabalho pedagógico direcionado a professores, será disponibilizado um caderno de arte-educação criado pela pedagoga Nereide Schilaro Santa Rosa, com o intuito de orientar os professores para um melhor aproveitamento das visitas escolares.

Também foi lançado especialmente para a exposição o livro “Corpo Presente. A convicção figurativa na obra de Lasar Segall”, com textos de Vera D’Horta, curadora do Museu Lasar Segall, em São Paulo, de Max Perlingeiro e do empresário Celso Lafer, especialista em Lasar Segall. O livro tem 288 páginas, com 200 imagens entre fotografias, documentos e obras do artista, com direito a acabamento em capa dura.

O legado de Segall

As obras iniciais de Segall são interpretadas erroneamente como expressionistas, de acordo com Perlingeiro. “Alguns historiadores dizem que o período é totalmente expressionista. Até 1914, no entanto, ele estava impregnado com a atmosfera do impressionismo alemão e francês, e muito influenciado por Cezànne e Van Gogh”, explicou. “Os quadros ‘Retrato de Margarete’ e ‘Leitura’ (1913 e 1914, respectivamente) mostram justamente essa transição para o expressionismo, com uma personalidade própria.”

O quadro “A Floresta” (1912), também presente na mostra, é uma das poucas obras identificadas como parte da primeira exposição modernista do Brasil, em 1913, “quando Segall vem pela primeira vez ao Brasil, e expõe em São Paulo e Campinas. Imagine o espectador vendo uma obra totalmente diferente do que era produzido pelas Belas-Artes. Antes, o que havia era arte clássica, personagens claros”, afirmou Perlingeiro. Segundo o empresário, a segunda vinda de Segall para o Brasil, desta vez para fixar residência, transformaria não só seu estilo como a Arte Moderna Brasileira.

“Quando veio para o Brasil pela segunda vez, em 1922, Mário de Andrade escreveu um artigo para um jornal falando da vinda de um grande artista, preconizando a influência que faria por aqui”, disse. “Houve resistência por parte da corrente clássica de pintores positivistas da escola de Belas-Artes, e por parte dos acadêmicos. Por outro lado, modernistas como Tarsila do Amaral, Anita Malfati e Di Cavalcante o receberam de braços abertos. Só em 1931, o Salão de Belas-Artes abriu espaço para a Arte Moderna.”

Pinturas de sua fase mais brasileira, de 1924 a 1928, também podem ser admiradas na mostra carioca. “Ele se impressiona muito com o exotismo do Brasil, a folha de bananeira e o mulato, e pinta esses temas exaustivamente”, comenta Perlingeiro. “Era de uma brasilidade muito grande, ele realmente assume o personagem de uma nova pátria, que ele estava adotando.”

Segall também realizou trabalhos em bronze, mármore e pedra-sabão, além de lito e xilogravuras, entre outras técnicas. “Após começar a trabalhar com esculturas, os quadros também ganharam uma certa tridimensionalidade. Além do uso das formas, Segall começou a usar areia e outros materiais em suas pinturas, criando texturas.”

Vida e arte

Lasar Segall nasceu em 21 de julho de 1891, na comunidade judaica de Vilna, na Lituânia, onde começou a estudar desenho. Posteriormente, passa a morar na Alemanha, onde aprimora sua arte. Por causa de seus irmãos, que já moravam no Brasil, conhece o país em 1913. Somente em 1923, Segall se muda para São Paulo, após ter conquistado reconhecimento no exterior. Automaticamente, passa a conviver e criar laços de amizade com modernistas brasileiros, como Mário de Andrade, que já acompanhava seu trabalho por revistas e jornais.

As obras Paisagem brasileira (1925), Menino com lagartixa (1924), Rio de Janeiro (1927) e Mãe cabocla (1944) demonstram o início de Segall no que foi denominada sua “Arte Brasileira”, quando passa a usar motivos e cores locais, como figuras de negros, plantas tropicais e favelas.

Segall casa-se Jenny Klabin em 1925, sua ex-aluna de desenho de quando veio pela primeira vez ao país, em 1913. Dois anos mais tarde, naturaliza-se brasileiro. Do casamento com Jenny, nascem dois filhos, Maurício e Oscar. Passional, suas companheiras foram um tema recorrente em sua produção artística. A primeira esposa, Margarete Quack, foi retratada em algumas de suas primeiras obras; mas quando conhece a pintora paulista Lucy Citti Ferreira, chega a produzir cerca de 50 obras usando-a como modelo.
Em 1937, dez obras de sua autoria são incluídas na Exposição de Arte Degenerada, organizada pelos nazistas em Munique para desqualificar a Arte Moderna. Em 1942, Ruy Santos produz um filme sobre sua obra, “O artista e a paisagem”.

Segall morreu em 2 de agosto de 1957, vítima de doença cardíaca. Sua morte é lamentada por diversos expoentes nacionais, como Candido Portinari, que assim o descreve: “Ele foi um artista de rara honestidade, fiel até o fim ao seu ofício e incapaz de subordinar sua inspiração aos fatores momentâneos de sucesso”. Em 1967, é criado em São Paulo o Museu Lasar Segall, em sua antiga residência.

A retrospectiva “Corpo Presente” acontece na Pinakotheke Cultural do Rio de Janeiro, situada na rua São Clemente, 300, em Botafogo, na zona sul do Rio, até 21 de dezembro. A galeria funciona de segunda a sexta-feira, das 10h às 19h, e aos sábados das 11h às 18h. A entrada é gratuita. Visitas escolares podem ser marcadas pelo telefone (21) 2537-7566 ou pelo e-mail professor@pinakotheke.com.br.

Fonte: SRZD

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