segunda-feira, 25 de fevereiro de 2008

O BOPE tem guerreiros que acreditam no Brasil? Relatos sobre a violencia urabana em Tropa de Elite

O que mais impressiona em Tropa de Elite é seu realismo, a forma direta como trata de delicados temas – como drogas, violência e corrupção. O filme inova por mostrar a violência do ponto de vista do policial, que pratica e convive com a violência diariamente. O personagem em evidencia é o Capitão Nascimento um membro do Batalhão de Operações Policiais Especiais (BOPE). Ele está em crise, seu filho irá nascer e ele precisa arranjar um substituto para as suas funções. A partir daí o filme mostra incursões nas favelas, torturas e os treinamentos dos policiais do BOPE.


Nascimento relata a vida difícil dos policiais do BOPE, as angústias pessoais e as redes de corrupção que é atingem o sistema policial. Descreve uma realidade que inclui policiais corruptos, traficantes, políticos e consumidores de drogas da classe média e alta que contribuem para o sistema funcionar e se perpetuar. Em contraponto, a elite da tropa é tratada como um pequeno grupo resistente a corrupção que percorre o restante da polícia - a glória era uma recompensa muito maior que o dinheiro. O BOPE não foi preparado para enfrentar os desafios da segurança pública. Foi concebido e adestrado para ser uma máquina de guerra, age de forma rápida e eficiente.

Outros filmes já trataram de temas como violência, corrupções, instituições, ONGs, porém nenhum com tamanha eficiência. Existem milhares de monografias, teses de mestrado, doutorado, mas foi um filme que colocou estas questões em pauta nas discussões cotidianas. O cinema tem essa característica de colocar dúvidas, criticar, e não necessariamente dar respostas, o filme apenas sugere.

É importante ressaltar que filmes não são teses, e sim obras artísticas; portanto, seu significado não só é aberto como sujeito a diferentes interpretações em circunstâncias e pontos de vista não necessariamente excludentes.

Os problemas da violência urbana no Brasil não são um desafio do presente, são problemáticas históricos. Tropa de Elite transpôs para o cinema aspectos da sociedade brasileira que todos conhecemos, fazem parte de nosso cotidiano, contudo esquivamos de questionar pois parecem distantes ou impossíveis de serem contornados. Não busca culpas, mas relações de causa e efeito, pois a polícia não existe no vazio. O que é representado no filme, apesar de ser uma ficção, não é uma abstração, é uma realidade.

Problematizar a realidade social vivida, por essência, é uma forma de intervenção no mundo, uma tomada de posição, uma decisão, por vezes, até uma ruptura com o passado e o presente. Em uma análise sociológica, você não pode apenas tentar se pôr no lugar daquele que está falando e deste modo pensar ver toda a complexidade do espaço social a partir apenas deste ponto de vista. Não basta conhecer os fatos sociais formalmente, é preciso entender as relações que regem determinada conjuntura.

Todo texto é subjetivo, uma versão, interpretação dos dados e informações. Por isso, ao captar os fatos o cineasta já imprime sua marca, ao reelaborá-las em forma de narrativa, reinterpreta-a novamente. Ao filmar um determinado fato social não estaremos assistindo a um momento de realidade completa, mas sim uma interpretação do momento na sua fragmentalidade. A obra artística é discurso que quer comunicar algo e que possui a interferência de seu autor, que efetuou um recorte da realidade.

Ao assistir Tropa de Elite é inevitável ao expectador a sensação de incomodo, de um certo desconforto em relação aos aspectos afirmativos de uma sociedade contraditória e discriminatória. A violência no Brasil mais do que banalizada, está naturalizada. A sociedade moderna está embutida de valores que são muitas vezes contraditórios. As classes mais humildes estão comumente associadas ao crime e a violência sendo submetidos a repressão continuamente. É mais fácil condenar individualmente aqueles que não se adequam as regras, do que procurar entender o que acontece com os habitantes das favelas, inseridos em um contexto de perda de valores, de frustrações, de falta de oportunidades, de violência.

Enquanto houver demanda, o tráfico continuará. Por isto, o filme trata como hipócritas os usuários de drogas – oriundos de diversas classes sociais, mas principalmente das médias e altas. Tendo em vista que ao consumi-las financiam diretamente os traficantes e indiretamente contribui para a morte de inocentes na guerra do tráfico. Devemos entender, no entanto, que drogas são apenas uma ponta do iceberg que são os históricos problemas sociais, habitacionais no Brasil. Existiriam favelas sem o tráfico de drogas, a violência é um processo que envolve dimensões e implicações em várias instancias. O debate suscita uma polêmica exterior: a descriminalização das drogas. Entretanto, isoladamente, a legalização pouco diminuiria a violência.

Uma expressão, às vezes aparentemente uma simples palavra, vem sempre carregada de muito significado, sendo assim, mesmo inconscientemente acabamos por reproduzir e perpetuar coerções de uma determinada cultura, pois influenciamos e somos influenciados pelo espaço social que pertencemos.

Os fatos sociais não surgiram ao acaso foram construídos socialmente. A cultura é como um mapa que orienta as ações dos indivíduos no meio social. Viver em sociedade é viver em razão dessa lógica e as pessoas se adaptam segundo as estruturas de determinada sociedade. Tropa de Elite não defende nenhum dos lados, pelo contrário mostra que uma atitude é conseqüência de outra. Nas atitudes violentas reproduz de outras formas a violência de uma estrutura desumana, da qual sofrem as conseqüências.

É necessário entender a forma como determinados grupos transmitem suas mensagens, quais são seus códigos, os elementos de sua linguagem e suas significações. Os humanos estabelecem ou produzem a vida social ao estabelecerem relações sociais entre si. A maneira como se forma uma estrutura hierárquica depende do contexto, da realidade, das características dos agentes e do campo. As propriedades que determinado setor valoriza servem de diferenciação e define sua forma de relação dentro do espaço social. Valorizar um fato que outros não necessariamente compartilham, ajuda a compreender as razões de determinados fatos terem um ou outro encaminhamento.

O grande número de jovens de classe média e alta envolvidos com entorpecentes, revela uma realidade há muito negligenciada. Num primeiro momento soa pesado acusar as pessoas pela violência no país, porém igualmente contraditório é a população pensar que é apenas vítima. Na visão de Nascimento, os estudantes, “leitores de Foucault”, “moralistas”, criticam a ação da polícia, financiam os traficantes, mas em seguida fazem passeatas contra a violência, ou seja, escondem por trás de valores morais que na realidade não defendem, reproduzindo uma realidade que aparentemente negam. A avaliação da moral do crime e dos seus limites depende das circunstancias.

É contraditório porque a sociedade é contraditória. Um exemplo disto é em uma das cenas finais quando a jovem recorre a polícia para tentar conseguir salvar seus amigos, neste momento os papéis se invertem, a polícia e sua repressão agora são desejadas e valorizadas. Como diz o personagem Mathias: “Agora sou policial né!”.

Outro eixo central da obra é a violência contra a população das favelas, em operações exercidas pela polícia, no filme a Polícia militar de Elite. Neste último aspecto, quem narra legitima a violência como o único meio de combater o tráfico. De certa forma reflete o pensamento de parte da população. Ninguém deseja execuções sumárias e crimes cometidos por policiais, porém em virtude da falta de opções calam-se, tendo em vista que os crimes cometidos pelos traficantes geralmente terminam impunes. Engana-se quem pensa que o mundo real quem detém o poder são os poderes visíveis e as leis escritas. O mais importante é respondido nas entrelinhas das situações.

Além da violência física, os habitantes das favelas enfrentam vários outros tipos de preconceitos e discriminações, o que significa que são vítimas não somente desta modalidade de violência como também daquelas invisíveis, que direta ou indiretamente igualmente fere e muito profundamente que é a simbólica e moral.

A visão parcial da realidade produz não somente idéias falsas, mas práticas equivocadas. A tortura é inaceitável, porém dentro do sistema judiciário atual é inútil encaminhar a pessoa para prestar depoimento em seguida solta-la, deixando-a livre para praticar crimes novamente. A lógica da coerção policial no fundo é desejada, a impunidade passa a idéia de que por justiça, "os fins justificam os meios", entretanto, aceitando a violência estamos, concordando com uma determinada interpretação e o atendimento de algumas reivindicações, contudo, simultaneamente reiteramos uma sociedade injusta, fundada no preconceito e contrária ao Estado de Direito. É lamentável, não se mexe na ordem social, somente num nível restrito.

É mostrado que os setores mais carentes da sociedade brasileira, além da ausência de todos os direitos fundamentais do ser humano, o direito a segurança e proteção, sofrem com a ausência de outros fundamentais: educação de qualidade, moradias dignas, saneamento, emprego com uma remuneração mínima para a cidadania. A violência contra as camadas sociais carentes passa a ser considerada como uma guerra civil não declarada, porém consentida. Direitos humanos tornaram-se sinônimo de hipocrisia, palavras como paz, justiça e igualdade, soam vazias e apenas fazem eco a sentimentos de vingança e ressentimento.

Interessante a abordagem sobre o papel das ONG nas favelas. O filme mostra um garoto com problemas de miopia e ninguém reparou, foi preciso uma pessoa de fora perceber o problema. Aliado a isto, denuncia pessoas se drogando dentro da instituição, e um rapaz servindo de mediação dos traficantes, revendendo as drogas na universidade.

A crise de Nascimento não é meramente ficcional. O sistema engole e molda os sujeitos a sua vontade. Vemos o aniquilamento do sujeito. Os policiais recebem salários desproporcionais às ameaças que enfrentam. Muitos sofrem danos físicos e mentais. A pressão é grande e o risco de morte constante. Há dois grandes problemas na polícia: a corrupção e brutalidade, há um processo histórico da política de segurança pública que está padronizando as atitudes rígidas, dos quais os policiais são também vítimas, antes mesmo de serem apontados como algozes.

As pessoas identificam-se com Nascimento porque vêem nas suas ações um exemplo de combate às drogas e a violência e redescobrem nele o desejo de justiça, de condenar quem burla as regras. Contudo de forma alguma pode considerá-lo como herói. Prática a brutalidade extrema, porque não se sente regido pela legalidade constitucional. Atualmente é comum escutarmos uma história de terror, protagonizada por algum criminoso, acontecida consigo ou com algum parente, amigo ou conhecido. A violência urbana não é uma questão restrita ao Rio. Acostumamos-nos com a escalada da violência, achando normais os quadros da criminalidade. O tráfico atua como um Estado dentro do Estado de direito, sendo mais organizado e poderoso, impondo sua lei e sua ordem por meio da violência, ocupando espaços negligenciados por este. Ver num filme traficantes serem punidos traz uma sensação de alívio e de justiça praticamente impossível no mundo real.

Vendo às corrupções, rimos da nossa própria tragédia. Os fatos são introjetados do cotidiano confirmando o jeitinho brasileiro, que é nossa falta de planejamento, o imediatismo, o individualismo. O expectador é remetido a outras esferas de compreensão além dos fatos narrados. Diante das situações conflitantes e enigmáticas, faz-se analogia com angústias que vivencia no seu contexto social. O “sistema" revela-se uma complexa rede de propinas, negligencias, subornos, impunidade com criminosos. Por que envolver-se, arriscar a vida se pode “negociar”. Configura-se um desvio de conduta generalizado que contribui para que a corrupção tome maiores proporções. A policia fornece armas aos traficantes por dinheiro e depois vai buscá-las para o espetáculo da mídia. As armas que são usadas contra a própria polícia. Reverter os quadros da violência é também reverter características de nossa cultura.

O filme mostra uma estrutura social que vai além dos indivíduos. É estabelecido um contexto narrativo no qual o individuo se encontra preso às amarras de uma organização social que sobrevive e se mantém alimentada exclusivamente por uma estrutura administrativa da qual ninguém escapa ao controle. Você tem de optar, ou se corrompe, ou se omite ou vai para guerra.
Tropa de Elite é um exercício de ironia e cinismo, uma crítica feroz no tempo e no espaço. A linha narrativa é uma variação denuncias de contradições sociais, variando no tom e na intenção, completos em si mesmos e, no entanto, ligados uns aos outros numa estrutura que se revela, no epílogo, integra e coesa.

Tudo é configurado num clima de rendição ideológica, com as pessoas se esquivando das responsabilidades pela miséria, pela violência, pelas arbitrariedades. Os fatos sociais nunca são simples, pelo contrário, são sempre complexos e muitas vezes contraditórios. A naturalização da violência acarreta uma sensação de impotência para lidar com a realidade. A ameaça do medo constante gera conseqüências como a falta de solidariedade, a indiferença para com a miséria. O homem não está alheio ao seu tempo histórico, ele é um sujeito histórico.
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Obs: Este texto foi enviado durante as férias para uma revista contudo infelizmente, ou felizmente nao foi publicado, vou engavetá-lo por enquanto e quando puder remodelá-lo e tentar publicá-lo novamente.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2008

O olhar de Kubrick sobre a guerra

Uma análise da obra Nascido para matar do gênio do cinema Stanley Kubrick


Após passar pelos gêneros épico, terror, ficção, humor negro, drama sociológico, entre outros, Stanley Kubrick, um dos cineastas mais versáteis de todos os tempos, decidiu, nesse filme, mostrar a guerra através de suas precisas lentes. Optando por analisar a figura humana, em vez da história por trás dos conflitos, Kubrick mostrou todo o drama que envolve uma guerra do ponto de vista dos próprios soldados. O filme é basicamente dividido em duas partes. Na primeira, a desestruturação emocional dos soldados é transmitida de forma vívida e irônica, onde, através de absurdos, nos é mostrado a quebra dos valores e princípios humanos durante o treinamento pré-guerra dos soldados. Na segunda parte, ambientada na guerra do Vietnã, a história é contada principalmente através dos olhos de um personagem – o soldado Joker - com atos e pensamentos que nos levam a crer que ele é a personificação da contradição existente no conceito de guerra.

Um dos fatores que me chamou a atenção, principalmente na primeira parte do filme, é o tipo de técnica utilizada para a gravação das cenas. O filme é repleto de tomadas completamente mecânicas como se quisesse mostrar o quão metódico pode ser o exército. Característica essa que, por meio de regras rígidas e repetições, levam os soldados à submissão. Já no começo do filme, onde o Sargento Hartman faz seu discurso aos calouros no treinamento, a câmera de Kubrick se mexe suavemente desenhando uma elipse no chão, girando de forma ininterrupta durante toda a fala do Sargento. Observamos também esse metodismo no estilo de gravação nos diversos momentos em que é usado o pullback (câmera em close up mudando, suavemente ou não, para planos mais abertos), mostrando primeiramente (em close up) a imagem dos rostos dos soldados e suas reações a alguma coisa e então, gradativamente, nos é mostrado o motivo daquelas reações, conforme a câmera vai recuando para o plano aberto. São apenas dois exemplos de como um estilo mais “mecânico” de gravar as cenas pode nos dar a sensação do metodismo usualmente adotado para treinamentos militares.

A seguir, tentarei analisar de forma mais profunda esses dois segmentos do filme, fazendo uso de frases e descrevendo cenas do próprio filme.

Atenção: A partir de aqui, o texto contém detalhes relevantes sobre o desenvolvimento do filme, os famosos spoilers, não sendo assim
aconselhável para aqueles que ainda não viram o filme.


O treinamento



- Eu sou o sargento de artilharia Hartman, seu instrutor. A partir de agora, só falarão quando forem chamados. E a primeira e última palavra que sairá de suas bocas imundas será “senhor”. Vocês me entenderam, seus vermes?

- Senhor, sim senhor.

- Porra nenhuma, não ouço vocês. Parecem mulherzinhas.

- Senhor, sim senhor!

- Se as senhoritas saírem da minha ilha, se sobreviverem ao treinamento, vocês serão armas. Serão ministros da morte rezando por guerra. Mas, até esse dia chegar, vocês são vômitos! Vocês são as formas de vida mais medíocres da terra. Nem sequer são porras de seres humanos! Não passam de pedaços desorganizados de merda anfíbia. Por ser severo, vocês não gostarão de mim. Mas quanto mais vocês me odiarem, mais aprenderão. Sou severo, mas justo. Não há descriminação racial aqui. Não desprezo judeus, crioulos, carcamanos ou cucarachas. Aqui vocês são todos igualmente inúteis. E tenho ordens de dispensar aqueles que não merecem estar em minha amada unidade.

É com essas palavras, saídas da boca do Sargento Hartman, que se inicia o pesadelo na vida dos soldados convocados pra o treinamento. Nesta cena inicial do filme e na maioria das cenas vindouras ainda contidas nessa primeira parte, do treinamento, é mostrada de forma clara e exagerada a desconstrução emocional dos aspirantes a combatentes. Com sua rigidez e agressividade, o sargento trata de desumanizar aqueles que estão ao seu serviço com o intuito de transformá-los em maquinas de matar, máquinas que eliminam os inimigos, independentemente se isso, o ato de matar, ferir, faz parte dos princípios daquele que futuramente estará nos campos de batalha.

Apesar de alguns não gostarem do sargento Hartman, eu tenho uma visão diferente sobre ele. Acho que ele acaba sendo vítima de um sistema, ele está ali para enviar pessoas pra guerra, pra matar ou morrer, se eles tiverem fraquezas elas devem ser extintas no treinamento. Visto isso, maldade seria se ele mandasse fracos pra guerra, para serem mortos ou terem poucas chances de sobrevivência. Foi o que disse, acredito que ele seja mais vítima do sistema, de toda essa sujeira política que existe, na posição em que ele se encontrava, fazia o melhor que podia, ou seja, que o menor número de americanos possível morresse naquela guerra.

Talvez nessa primeira parte, o personagem principal seja o soldado Pyle. Pyle é alguém que definitivamente não deveria estar lá. Nitidamente obeso e totalmente aquém dos ideais militares, seu sofrimento é narrado de maneira ímpar, onde Kubrick, gradativamente, mostra como Pyle passa através do sofrimento, da dor, humilhação e chega à loucura. No fim deste seguimento temos as primeiras “baixas de guerra”, antes mesmo de a própria guerra começar para aqueles soldados.

Reza do rifle

“Este é meu fuzil. Há muitos como ele, mas esse é meu. Meu fuzil é meu melhor amigo. É minha vida. Devo dominá-lo como domino minha vida. Sem mim meu fuzil é inútil. Sem meu fuzil, eu sou inútil. Devo usar meu fuzil com precisão. Devo atirar melhor que o inimigo que está tentando me matar. Devo atirar nele antes dele atirar em mim. E eu o farei. Perante Deus, eu juro. Meu fuzil e eu somos defensores de meu país. Vamos subjugar o inimigo. Vamos salvar minha vida. Assim seja, até que não haja mais inimigos. Só paz. Amém!”.



O campo de batalha

Na segunda parte do filme, mostra-se a projeção desse treinamento na guerra em si. O soldado Joker, aquele que, como ele mesmo disse, queria ser o primeiro no quarteirão a matar uma pessoa, acaba se deparando com a guerra de verdade e, conseqüentemente, com mortos de verdade e não gosta do que vê. Já no final da primeira parte do filme isso pode ser notado quando ele pede para ser encaminhado ao setor de jornalismo em vez de encarar a guerra de verdade.

O ápice da contradição desse personagem é o momento de sua discussão com o sargento em batalha sobre o broche da paz e a frase em seu capacete que dizia "nascido para matar", que ele explica como sendo a dualidade do homem*, que todos têm sua parte boa e sua parte ruim.

E, como prova final da maestria do Kubrick, acho que poucos diretores teriam capacidade de gravar tão bem a cena do sniper (atirador de elite). Mostrou-se a visão de ambos os lados, as mudanças de plano aberto pra close up simulando a mira da sniper eram ótimas, nos dava uma total sensação de incapacidade, de não saber como reagir àquela situação, um oponente que não se pode ver. Concluindo, um filme sobre a brutalidade das guerras e suas conseqüências aos homens que as lutam, muitas vezes, sem desejá-las.

* Essa teoria pode ser vista nesse artigo sobre psiquiatria: A Questão do Mal: uma Abordagem Psicológica Junguiana no link: http://www.rubedo.psc.br/artigosb/quesmal.htm


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Claude Monet: meramente um olho, mas que olho!


O Impressionismo foi um movimento artístico que surgiu na França no século XIX. Ele revolucionou a pintura e tendenciou a arte no final do século XX, como no cinema, literatura e música. O elemento fundamental na pintura impressionista é a luz. Os impressionistas captavam o reflexo que a luz fazia sobre os objetos nas diferentes horas do dia e passavam para as telas. Um pintor poderia pintar 5 telas ao mesmo tempo, era um trabalho muito rápido para não perder aquele tom que aparecia diante dele. As pinceladas são curtas e rápidas, não havendo contorno algum. As tonalidades não eram formadas na paleta do pintor, as cores eram usadas puras no quadro. No final, é o observador que combina as várias cores apresentadas, obtendo um resultado final. Observando uma pintura impressionista de perto, o que vemos são apenas pinceladas, ‘borrões’. O efeito só se dá quando atingimos certa distância do quadro.
Sobre os pintores impressionistas, podemos citar Monet, um dos principais e mais famosos repercussores do movimento. Pela sua característica inigualável de interpretar a realidade colocando-a em um contexto, criando uma nova visão, Cézanne certa vez falou que Monet era "meramente um olho, mas que olho!".

"Estão trazendo as telas para mim uma atrás da outra. Uma cor que eu achei e esbocei ontem em uma dessas telas reapareceu no ar. Eu sou rápido pintando e me esforço para fixar essa visão pelo maior tempo possível. Mas quase sempre desaparece tudo muito rápido, muda tudo completamente, fazendo que outra cor que eu já pintei dias atrás em outro estudo apareça diante de mim... E é desse jeito que é o dia todo. "

Oscar-Claude Monet nasceu em Paris em 1840. Ingressou na Académie Suisse e no estúdio Gleyre porque a postura mais livre era de maior interesse. Conheceu Eugène Boudin, o qual incentivou Monet a pintar sob a luz do sol e ao ar livre, procedimento que seria fundamental no desenvolvimento de sua técnica e estilo. Mais tarde, junto com Pierre-Auguste Renoir, Frédéric Bazille e Alfred Sisley, Monet desenvolveu a técnica de pintar o efeito das luzes com rápidas pinceladas, o que seria conhecido mais tarde como impressionismo.
O termo impressionista se deu quando Monet e seus amigos tiveram a iniciativa de montar a primeira exposição com a nova técnica. O evento não foi muito bem recebido e seus quadros foram ridicularizados, pois as pessoas ainda se mantinham fiéis aos princípios acadêmicos da pintura. Com uma crítica pejorativa ao quadro "Impressão, o nascer do sol", de Monet, os críticos passaram a chamar o grupo de “impressionistas”.
Monet encontrou várias dificuldades ao longo de sua carreira. É muito difícil um artista ser reconhecido, e ainda mais, enquanto ainda está vivo. Mas depois de viver na miséria, ter dois filhos, tentar suicídio, fugir para não se alistar na guerra, a vida dele estava pronta para prosperar.

Impressão: o nascer do sol

Em 1883, Monet mudou-se para Giverny, na Normandia (França), onde plantou um jardim para que pudesse pintar. Não demorou muito para comprar o terreno dos fundos da casa e pedir uma autorização para desviar um braço do rio Ru, que passava por perto, para formar um pequeno lago. Nessa época, Monet descobriu sua segunda paixão: a jardinagem. Criou flores, plantas aquáticas e providenciou a contrução de uma ponte japonesa, que o inspirou na série de nenúfares. Uma “série impressionista” é uma série de quadros, onde os objetos que se repetem não importam muito: a impressão de cada momento causada ao pintor, seja pela luz do sol, pelas sombras, reflexos ou vento, é o principal elemento transportado para as telas. Ele dizia que "o tema é uma coisa secundária; o que eu quero reproduzir é o que existe entre ele e eu". Por exemplo, a série que Monet pintou a fachada da catedral de Rouen, contém 18 telas retratando a igreja do mesmo ângulo.

Alguns quadros da série da catedral de Rouhen

No final de sua vida, Monet teve catarata, mas apesar da doença ele não parou de pintar. Usava em suas telas cores fortes como o vermelho-carne, vermelho goiaba, cor tijolo, entre outros vermelhos. Monet morreu aos 86 anos e está enterrado no jardim de sua propriedade.
Infelizmente, é meio difícil para nós, habitantes deste país chamado Brasil, vermos alguma obra original do Monet. Em 1997, o Masp realizou uma exposição em homenagem a este grande pintor. A exposição trazia 23 telas e também passou uma temporada no Rio de Janeiro. Em tempos, também ocorre alguma exposição impressionista nos museus e não é muito difícil encontrar alguma obra do Monet entre o acervo.

Quadro no tempo que Monet já estava com a visão danificaca. “Eu estou trabalhando muito e gostaria de pintar tudo antes de não conseguir mais enxergar.”
Um lugar que com certeza é interessantíssimo para visitar são os famosos “Jardins de Monet”, na prórpia casa do pintor em Giverny. O local, que foi reformado, é bastante visitado por turistas e também conta com uma atmosfera altamente conhecida através dos quadros do artista.
Até pouco tempo, o maior acervo do Monet fora da França, que é o do Museum of Fine Arts de Boston, estava viajando pelo mundo. Essa era a minha esperança de ter novamente Monet no Brasil, mas é lógico que não temos tanta sorte assim. Agora, só nos resta esperar e ver se alguma alma caridosa não promove outra exposição por aqui.

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008

Pushing Daisies

Em Pushing Daisies somos apresentados a um mundo completamente novo, desde suas histórias até seus cenários e figurinos. Não encontramos nada que chegue perto da palavra "comum".

Ned (Lee Pace), quando criança descobriu um "dom" curioso, ao tocar em uma pessoa morta, essa imediatamente voltava à vida. Mas essa nova vida só poderia durar 60 segundos, caso contrário alguém próximo morreria no mesmo momento. Ned também não poderia tocar novamente em alguém que trouxe à vida, primeiro toque era vida e segundo toque, a morte eterna.
Ned, apaixonado por tortas, abre seu restaurante inteiramente dedicado a elas, mas esse não é seu principal trabalho. Junto com seu, digamos "sócio", Emerson Cod (Chi McBride), ele usa seu dom para trazer vitimas de assassinato de volta à vida, para assim resolver os crimes e receber as recompensas, mas cada contato não dura mais de 60 segundos.
Em uma dessas missões, ele encontra Chuck (Anna Friel) , uma antiga paixão de infância, morta. Ao contrário do recomendado, ele não dá o segundo toque, deixando com que Chuck volta à vida. Assim começa uma história de amor, completamente fora do comum. Ambos nunca poderão se tocar.

Com personagens cativantes, um visual fantástico e um roteiro criativo, Pushing Daisies se mostrou uma mistura de comédia, com ingredientes de séries policiais e cenários que parecem terem sidos retirados de Amelie Poulain, ou qualquer filme do diretor Tim Burton.
A série indicada em diversos e importante prêmio, inclusive o Globo de Ouro, teve apenas 9 episódios de sua primeira temporada produzidos, por causa da greve de roteiristas nos EUA. Sua estréia no Brasil será pela Warner Channel, dia 10 de Abril ou a qualquer momento pela internet.

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Bom, sou Gabriel e essa é a minha primeira postagem no Cinemmus. Meu convite para entrar na equipe do blog foi feita há exatamente 4 meses atrás, hoje finalmente aceitei. Tenho um blog sobre música desativado. Pretendo falar sobre cultura em geral, talvez com mais frequência sobre séries (sou completamente viciado).

domingo, 3 de fevereiro de 2008

Bobby Fischer vai à guerra: A genialidade e loucura de um dos grandes gênios do século passado


“Xadrez é guerra no tabuleiro. O objetivo é fundir a mente do oponente”

Bobby Fischer

Sendo fã de xadrez e seus praticantes como sou, não poderia deixar passar a oportunidade de escrever um pouco aqui sobre o filme que teremos em breve. A Universal Pictures, juntamente com algumas parcerias, recentemente anunciou a contratação de Kevin Macdonald (que dirigiu “O Último Rei da Escócia”) para ser o diretor do drama “Bobby Fischer goes to war”, ou “Bobby Fischer vai à guerra” numa tradução livre.

O filme vai girar em torno do Match (conjunto de partidas) entre o norte-americano Bobby Fischer e o russo Boris Spasky valendo o titulo mundial. Seria normal para aqueles que desconhecem o xadrez e Fischer perguntar: Mas por que pode vir a ser tão interessante um filme sobre algumas partidas de xadrez?! É exatamente isso que pretendo responder nas linhas abaixo no intuito de convencer o maior número de pessoas possível que esse projeto tem tudo pra se transformar em um grande filme. De forma resumida, essa resposta pode ser dada em duas palavras: Política e genialidade.


"Quando eu joguei contra Fischer, ele lutou contra os produtores de televisão e os organiadores do evento. Mas ele nunca lutou contra mim pessoalmente. Eu perdi para Bobby antes mesmo de jogar porque ele já era mais forte que eu. Ele ganhou normalmente" Spassky, sobre o campeonato mundial de 1972

Situemos-nos, primeiramente, historicamente. O embate ocorreu em 1972, auge da guerra fria que ficou conhecida por dividir o mundo em dois blocos: os EUA e seus aliados políticos e a extinta URSS, formada pela Rússia e um pouco mais de uma dezena de outros países socialistas. Levando em conta as nacionalidades dos dois jogadores (americana e russa), é fácil deduzir a dimensão que esse match, que foi realizado em Reykjavik (capital da Islândia), tomou. A URSS já havia monopolizado o esporte durante três décadas antes de Fischer e continuou com sua hegemonia ainda três décadas depois. Fischer foi o suspiro do ocidente. Certa vez Bobby Fischer chegou a declarar: “Realmente é o mundo livre contra a mentira, trapaça e hipócritas russos”.

"Eu sou o melhor jogador do planeta e estou aqui para provar isso" Bobby Fischer

Fischer, que ainda muito novo (por volta dos 12 ou 13 anos de idade) aprendeu sozinho a língua russa para se informar melhor sobre a teoria do xadrez, acreditava que muitas coisas que aconteciam no xadrez eram controladas pela KGB (órgão secreto de inteligência russa, equivalente a CIA americana), e que seus agentes o perseguiam.

Sobre a genialidade de Fischer, cem páginas não seriam o bastante para relatar a grandiosidade de sua mente, mas irei relatar aqui alguns fatos que vão além do tabuleiro pra que a maioria dos leitores percebam suas qualidades extraordinárias. Primeiramente, Fischer se tornou Grand Master aos 15 anos, esse titulo é dado àqueles que chegam em um nível muito alto de conhecimento em xadrez, titulo este comparável ao de Ph.D. nas outras profissões. Ele decorava suas partidas enquanto as jogava, sabia de cabeça todas as que já jogou. Bastava você dizer pra ele o nome do adversário e o ano que ele era capaz de reproduzir no tabuleiro, lance a lance, exatamente como a partida aconteceu. Acredita-se que ele calculava em torno de quatro lances a frente por segundo durante o jogo. Tinha o QI superior ao de Albert Einstein e outros gênios históricos, seu QI era de 185 (a média humana é entre 90 e 110 e acima de 145 a pessoa já é considerada superdotada). E isso tudo só pra eu não entrar em suas proezas dentro dos tabuleiros, que são ainda maiores.

"Você sabe que vai perder. Mesmo quando eu estava melhor no jogo eu sabia que iria perder" Andrew Soltis, sobre jogar contra Fischer

Infelizmente, uma das maiores mentes do século passado, foi da genialidade à loucura muito rapidamente. Era rude quando queria (e parece que quase sempre queria), extremista em suas opiniões, anti-semitista, odiava Judeus (sua mãe era judia), acreditava que tudo se baseava em conspirações governamentais e muitas outras coisas que tornou Bobby Fischer o orgulho e a tristeza da nação enxadrista. Suas exigências também atingiam o absurdo. Não jogava a menos que as peças fossem opacas e a iluminação indireta, a cadeira também deveria ser de um formato específico e o primeiro jornalista deveria estar à uns bons metros de distância.

Após uma carreira brilhante e surpreendente, conquistou o título de campeão mundial em 1972 e, após isso, quando o mundo achou que tinha se acostumado e parado de surpreender-se com suas excentricidades, Fischer fez o lance mais surpreendente de toda a sua vida: Desapareceu! Por muitos anos Fischer só dava as caras quando ele queria. Passou por vários países e muitos mitos sobre seu destino apareceram na forma de rumores na época. Alguns diziam que ele havia morrido, outros que ele enlouquecera de vez e jogava xadrez em pracinhas de países menos conhecidos. Fischer perdeu seu titulo de campeão do mundo em 1975, pois não compareceu para defender seu posto contra Anatoly Karpov (russo). Em 2004, Fischer foi preso em um aeroporto no Japão por tentar viajar com um passaporte revogado pelos EUA.

Ele foi ameaçado de extradição para os Estados Unidos pra receber a punição por ter violado a sansão imposta à Slobodan Milosevic, então líder da Iugoslávia, jogando no país um rematch contra o mesmo Spassky por algo entorno de dez milhões de dólares. Em 17 de janeiro de 2008, Fischer faleceu na mesma cidade que em 1972 foi palco de um dos maiores confrontos enxadrísticos da história.

Acredito que um dos maiores desafios do diretor será mostrar o tamanho de suas proezas para um público que não conhece a profundidade do xadrez. Toda uma vida (literalmente) não é suficiente para se ter domínio de todos os aspectos do jogo, tamanha a dimensão de sua teoria. O talento de Kevin MacDonald para retratar figuras excêntricas, daquelas que se ama ou odeia, já foi testado e comprovado no seu filme “O Último rei da escócia” onde mostra a história de um ditador.

Pouco se sabe sobre o desenvolvimento da película. Além de Macdonald na direção, o roteiro será realizado por Shawn Slovo ("Em Nome da Honra"). A história será baseada em um livro de autoria de David Edmonds e John Eidinow. A produção está agendada para iniciar no final de 2008. Até lá, nomes no elenco e na equipe técnica devem ser adicionados.

Gostaria enormemente de ver Leonardo Di Caprio no papel principal desse filme. Acho que talvez ele seja o único capaz de retratar esse tipo de personalidade com tamanho realismo, uma vez que o personagem principal do filme lembra muito o Howard Hughes que ele interpretou em “O aviador”, no que diz respeito ao estilo bonito-gênio-louco. Mas ainda não foi divulgado nem sequer o tamanho da produção de “Bobby Fischer goes to war”, então não sabemos nem mesmo detalhes do orçamento do filme.
Macdonald atualmente está envolvido com as filmagens de "State of Play", baseado em uma minissérie do canal britânico BBC e que narra a investigação de um jornalista sobre a morte de uma jovem, amante de um poderoso político.

Poderia ficar horas e horas dissertando sobre como a história de Fischer daria um bom filme mas espero ter atingido meu objetivo principal nesse texto que era de trazer o maior número possível de olhos para esse projeto e não só os fãs de xadrez. Bobby Fischer tem história suficiente para virar um filme do nível e formato de “Uma mente brilhante” ou “O aviador”, ambos sucessos de bilheteria e exemplos de bom filme.

Por último, reproduzirei abaixo uma carta escrita pelo próprio Fischer quando uma revista local pediu ao mesmo para que se apresentasse, se descrevesse, dias antes do campeonato mundial de 1972, tema principal do filme. Acredito que esse texto mostre toda a sua genialidade, perseverança assim como sua loucura e o quanto ele podia ser rude e convencido. Eis a carta:


“Sou um especialista, jogo xadrez. Isso é uma coisa séria. Outra coisa não sei fazer, mas tudo o que sei eu domino a fundo. Nasci em Chicago, 9 de março de 1943. Serei campeão mundial. Se Spassky, o atual campeão, não tem medo de mim, tampouco eu tenho medo dele. Vim a Europa como em outros tempos veio Paul Morphy. Ele era de Nova Orleans e jogou como um gênio derrotando a todos os mestres europeus. Quando voltou para a América, morreu de desgosto e frustração. Meu objetivo é bater o recorde de Emmanuel Lasker, que reteve o titulo durante 27 anos. Necessito de muito descanso e uma boa iluminação.
Em especial, não tolero nenhum ruído que me distraia em meu trabalho de calcular e combinar. Onde mais gosto de jogar é na Iugoslávia. As pessoas gostam de mim e até escrevem cartas. Os dez mil dólares oferecidos para a final eu considero muito pouco. Deve-se pagar melhor aos grandes mestres. Não quero me contentar com presentes pequenos. Trabalho todo um mês, enfrento mestres fortes e experimentados e a FIDE me paga 750 dólares. Fiquem então com o dinheiro ou joguem-no na água! Esforcei-me muito na vida para ser algo. Hoje já sou alguém, amanhã serei ainda mais conhecido. Meu objetivo é que no planeta não exista ninguém que mova as peças de madeira melhor que eu. Meu pai abandonou minha mãe quando eu tinha dois anos. Nunca o vi. Minha mãe disse apenas que se chamava Gerhard e era alemão. Ela era educadora num internato suíço.
Vivíamos no Brooklyn, onde minha mãe procurou para mim um professor de xadrez. Quando aos 13 anos, pude derrotar Donald Byrne em uma brilhante partida e me senti orgulhoso ao ler nos jornais: quando um menino faz tais jogadas, algo surgirá disso. Estudei a língua russa para poder me informar melhor sobre a teoria do xadrez.
Na América, ninguém pode ser comparado a mim: fui oito vezes campeão nacional, o que já me resulta
em desmotivação. A única coisa que não me desmotiva é ver meu saldo bancário aumentando. Algum dia, serão meus o automóvel mais caro e a casa mais bonita. Xadrez me causa prazer e pode me proporcionar dinheiro. Botvinnik escreveu que calculo melhor que os demais. Disse que sou um computador, um homem prodigioso e que fui um menino prodígio. Aqui não existe prodígio algum. Sou apenas um estudioso. Jogo xadrez todos os dias. Aprendo e procuro melhorar meus conhecimentos. Agora, todos esperam de mim que ganhe sempre. Aos jornalistas é desagradável que uma partida termine em empate. É algo que ataca os nervos. Não sou como Petrossian ou Korchnoi que concordam em empatar com 12 jogadas. Continuo até ficar com o rei sozinho. Sei o que quero. Os meninos que tiveram que crescer sem pai logo são como lobos. Meu mundo é o tabuleiro preto e branco de xadrez. Em minhas jogadas, procuro movimento e arte ao mesmo tempo. Quem não consegue ver isso me da lástima. Robert James Fischer não é nenhum computador como alguns querem pensar. Sou meramente um homem,mas um homem extraordinário. Aos 15 anos era Grande Mestre, aos 16, campeão americano, com 28 sou o jogador mais forte do mundo e com 29 serei oficialmente campeão mundial. Meu programa para o futuro está claro. Não cometerei o mesmo erro de Sousse, nem abandonarei o campo de batalha. Carecia de experiência e era demasiado susceptível. Agora sou forte como um muro e frio como um Iceberg."

Fontes: Chessbase.com ; Cinemacomrapadura.com.br ; Bobbyfischer.net