quarta-feira, 24 de outubro de 2007

Empresa de 'Tropa de Elite' investe até R$ 7 mi em 2º longa

Premiado como diretor e produtor de documentários, José Padilha, 41 anos, alcançou o grande público com Tropa de Elite, primeiro longa-metragem de ficção com a Zazen Produções, sociedade de Padilha com Marcos Prado, fundada há 10 anos. Agora a produtora prepara seu segundo longa de ficção, com orçamento de até R$ 7 milhões.

O sucesso na realização dos documentários permitiu à produtora ingressar no mercado de longas de ficção, que exige mais recursos, diz Padilha, formado em administração de empresas pela PUC-RJ e com curso de economia política, literatura inglesa e política interna-cional em Oxford, na Inglaterra.

Depois de mostrar os bastidores do Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), a Zazen mergulha no universo da juventude brasileira ligada à musica eletrônica e drogas sintéticas. O segundo longa de ficção da produtora, Posto 9 (nome provisório) será produzido por Padilha e dirigido por Prado, em dobradinha invertida em relação à Tropa.

A Zazen, contudo, não vai abandonar suas origens e segue na produção de documentários, como Povos Selvagens, Fome e 68 Destinos, e também negocia a venda dos direitos de Tropa de Elite para minissérie televisiva.

Posto 9 vai tratar da ligação dos jovens da classe média carioca com a criminalidade, mostrando a saga de dois amigos que se envolvem com o tráfico internacional de drogas sintéticas no Rio. "A idéia veio da curiosidade de entender o comportamento e costumes dessa juventude, desse universo globalizado e conectado, e porque a droga sintética e a música eletrônica caem tão bem para essa geração", diz Prado.

Inspirado numa conversa com o psiquiatra lacaniano Jorge Forbes, Prado diz que o filme vai mostrar uma "luz no fim do túnel", com a esperança de que esses jovens deverão "tornar as relações de trabalho e relacionamento mais verdadeiras e menos hipócritas".

Com orçamento estimado entre R$ 5 milhões e R$ 7 milhões, Posto 9 está em fase de captação de recursos e as filmagens devem começar no final de 2008. "Com menos de R$ 5 milhões não dá para fazer um filme bem produzido", conta Prado. Um dos maiores custos do filme será na produção das festas rave, o que vai exigir dezenas de figurantes.

Paralelamente a Posto 9, Prado vai dirigir o documentário 68 Destinos, sobre a histórica "Passeata dos 100 mil", realizada no Rio em 1968 em protesto contra a ditadura militar. A convite do fotógrafo Evandro Teixeira, que registrou o evento, o diretor vai entrevistar 68 pessoas que se reconheceram na foto do dia da passeata. O filme está em fase de pesquisa e captação de recursos e deve chegar ao cinema em 2009.

Outros dois documentários, dirigidos por Padilha, estão em fase de pós-produção e estréiam em 2008. Povos Selvagens trata da exploração dos índios Yanomami por antropólogos americanos e franceses, conforme denúncia do livro Trevas em El Dorado, de Patrick Tierney. O filme tem exibição garantida em TV no Reino Unido (BBC), França e Alemanha (Arte), Austrália (SBS), Finlândia (YLE) e Dinamarca (TV2). O documentário Fome aborda a questão da fome no Brasil, mostrando o drama das suas vítimas.

Com parte dos recursos bancados pela Petrobras e BNDES, o filme foi rodado em Fortaleza e no município de Choró, no Ceará. "O objetivo é mostrar a fome do ponto de vista de quem passa fome, e não dos intelectuais ou economistas", destaca Padilha.

As negociações para a venda dos direitos para a adaptação de Tropa de Elite em minissérie televisiva devem ser fechadas somente no próximo ano. Padilha, que está de férias e diz não ter pressa para fechar o negócios, informa que canais de TV (aberta e fechada), do Brasil e do exterior estão interessadas. Entre elas estariam a Rede Globo, Rede Record e HBO. Filmado com orçamento de R$ 10,5 milhões, Tropa contabiliza 1,28 milhão de espectadores, em menos de 20 dias no cinema, além da estimativa de mais de 1 milhão de pessoas que assistiram a cópia pirata.

A produtora The Weinstein Company deve lançar o filme em janeiro de 2008 nos EUA. "Mas o filme já está em Moçambique (na África), onde a cópia pirata está bombando", brinca Padilha. O diretor se mostra satisfeito com a repercussão do filme, que suscitou a discussão sobre a necessidade de reorganizar as corporações policiais no Brasil.

"É uma cultura completamente militarizada, que vem da época da ditadura e que não é adaptada à realidade atual do Brasil. Se o filme conseguir colocar a estrutura policial na agenda política, terá um papel importante", diz Padilha, que também estuda propostas de estúdios para dirigir filmes na Europa e Estados Unidos. "Mas caso aceite alguma das propostas, quero manter no exterior a ideologia da Zazen Produções, de realizar somente filmes socialmente engajados e relevantes."

Gazeta Mercantil

1 comentários:

Unknown disse...

Novos projetos bem estudados por esses fantásticos produtores...

... mas vou aguardar anciosíssimo por esse "Posto 9"!

=)