Estréio minha participação no Cinemmus com nada menos do que a resenha do disco novo de uma das minhas bandas preferidas. E quando falo em bandas preferidas, o Radiohead faz parte do meu time "a melhor banda do mundo", ou seja, o meu top 5.
É preciso que o leitor leve em consideração, portanto, o fator supracitado além do fato que ouvi o disco por 3 vezes antes da realização da resenha. Este fator é interessante pois fica como relato de primeira impressão dum disco novo, algo que pode mudar com o tempo, e caso o aconteça, escreverei novamente com impressões diversas.
Pois então, chega de enrolação! Segue a resenha:
Depois de 4 anos do lançamento do fantástico (como se tal adjetivo fosse atribuído a apenas uma das obras da banda, mas enfim...) Hail to the Thief, o Radiohead lança, em 10 de outubro de 2007, mais uma pérola, In Rainbows. Não cabe aqui analisar todo o frissom em torno do lançamento (e da forma como foi lançado), fato já analisado no post anterior pelo colega Raphael, mas sim, a música em si.
Como um todo, não dá para dizer ainda se o álbum tem um conceito temático definido, como o que acontece em Ok Computer (1997), por exemplo. Parte dessa indefinição vem do fato de que não há a disponibilidade das letras das músicas de maneira oficial. Na internet circulam versões, porém ouvindo atentamente, houveram mudanças.
No entanto, musicalmente, o download (iria usar a palavra "CD", ou a palavra "bolacha", mas, nesse caso, não foi possível!) soa conciso, fechado, coeso, o que, historicamente, é uma das qualidades da banda de Oxford. Nenhuma música é solta ou filler em seus projetos. Tudo tem seu lugar previamente calculado, específico.
Quanto à sonoridade, o disco segue o padrão de Hail to the Thief. As nuances eletrônicas se encontram em perfeita harmonia com os instrumentos convencionais. Porém, não há, aqui, nenhuma 2 + 2 = 5, onde as guitarras tomam a liderança. Não há nenhum momento onde se tenha a lembrança das eras do Pablo Honey (1993), ou The Bends (1995). Não há também, nenhuma experimentação mais aguda da banda. Quem já é familiarizado com o "mundo Radiohead", não terá grandes surpresas, o que para uns é bom, e para outros pode ser um pouco desapontador.
O disco tem uma atmosfera sóbria, por vezes sombria, com raríssimas exceções. Além disso, é interessante notar que nesse disco, mais do que nos anteriores, a banda cria diferentes climas, "etapas" dentro de uma mesma canção. Lembro de uma entrevista do Thom Yorke para um canal francês na turnê do Hail, onde ele dizia que a música Happiness Is a Warm Gun, dos Beatles (White Album, 1968), é uma grande inspiração para ele, pois em seus 2:43 de duração, soa como se tivesse 5 minutos, e como se fosse várias músicas diferentes. Pois bem, se era essa a intenção da banda, eles conseguiram, já que a faixa mais comprida de In Rainbows tem pouco de mais de 5 minutos de duração.
Abaixo, uma breve descrição faixa-a-faixa do álbum:
Faixa 1. 15 Step. O disco abre com batidas eletrônicas acompanhadas somente pelo tradicional vocal de Thom Yorke. E isso se mantém por praticamente 45 segundos! A primeira impressão é de que a música não terá nenhum tipo de harmonia. Porém, no tempo citado acima, entram bateria orgânica, guitarra e baixo. Aliás, por falar em baixo, sr. Colin Greenwood trabalhou muito bem. Suas linhas estão competentes como sempre, porém mais seguras e, por que não dizer, mais criativas. Ponto pra ele. Voltando à música, a banda trabalha com uma linha de guitarra que me lembra um pouco bossa nova, até 1:38, onde um clima mais denso toma conta rapidamente da música, para voltar apenas aos 2:23. A partir daí, os sintetizadores aparecem em primeiro plano, junto com uma linha de baixo matadora, e a(s) bateria(s) densas, formando uma típica música do Radiohead. Com certeza, se me dissessem que 15 Step fosse parte do Amnesiac (2001), eu acreditaria.
Faixa 2. Bodysnatchers. Com certeza, a faixa mais "animadinha" do disco. A bateria comandada pelo "loop humano" Phil Selway mantém-se constante durante toda a música, honrando seu título. As guitarras aparecem mais aqui, com solos e efeitos permeando as camadas sonoras. O som, apesar de feito basicamente pelos instrumentos "convencionais" (baixo, guitarra, bateria orgânica, vocal, teclado), soa meio granulado, meio mecânico, seguindo o padrão do resto do disco. Apesar disso, ao fim da faixa, Thom Yorke chega a levantar sua entonação e leva a um fim bastante interessante, onde a música meio que acaba de repente.
Faixa 3. Nude. Uma belíssima balada. O trabalho de guitarra na música é impecável, recomendo ouvi-la com fones de ouvido e prestando atenção no trabalho dos homens das 6 cordas. A música começa com uma leve orquestração, algo que pode lembrar Motion Picture Soundtrack. Logo em seguida, Colin Greenwood carrega a música numa ótima linha de baixo, que serve de corpo para o vocal de Mr Yorke. As guitarras aparecem, e a música segue até ao fim em seu lento andamento, com as orquestrações indo e vindo. Mais uma vez, a bateria mantém-se praticamente constante do início ao fim, com exceção do trecho começado em 03:08, onde pode-se ouvir total silêncio até 03:11, quando a canção volta, para seu fim, com as tradicionais vocalizações de Thom.
Faixa 4. Weird Fishes/Arpeggi. A cozinha trabalhando impecavelmente, mais uma vez. Bateria começando, novamente com uma linha permanente, baixo entrando em seguida, junto de um dedilhado de extremo bom gosto sendo tocado pelas guitarras. A música é, com certeza, um dos pontos altos do disco. Merece destaque a interpretação dos vocais, tanto o principal, quanto os vocais de apoio, provavelmente feitos por Ed O'Brien. O sentimento da música é passado por eles.
Faixa 5. All I Need. A típica música dos ingleses que começa "pequena" para crescer no fim. os instrumentos vão entrando aos poucos, para, aos 02:56, com a bateria sendo tocada na mais pura vontade, junto com um piano incisivo, e vocal destacado, compondo um final interessante.
Faixa 6. Faust Arp. Praticamente uma música voz & violão, porém recheada por sons sintetizados. Uma faixa curta, funciona meio que como uma vinhetinha.
Faixa 7. Reckoner. Começa com a meia-lua em destaque, o que dá a falsa impressão de que o que virá é uma faixa rock. As guitarras entram lentamente, e logo veremos que se trata de mais uma canção calma dos ingleses. A meia-lua segue, os vocais arrastados se dão até 02:23, quando a música enterra-se somente em piano e vocal praticamente chorado, tornando-se belíssima, com a inclusão de orquestrações. Em 03:18, o ritmo inicial retorna, para assim manter-se até o fim.
Faixa 8. House of Cards. A mais longa do disco. Curiosamente, mantém-se sempre no mesmo andamento, no mesmo clima. As guitarras novamente me lembram um pouco da bossa nova, junto com a bateria levada "no aro" pelo Mr Phil. Assim como em Faust Arp, a base da música existe, e sons adicionais, guitarras e sintetizadores, vão se sobrepondo em diferentes oportunidades. Uma ótima faixa.
Faixa 9. Jigsaw Falling into Place. A outra música com uma levada um pouco mais acelerada do disco. Conduzida em sua base por violão e baixo, contém alguns sons de guitarra que lembram a velha forma de Jonny Greenwood. Ou seja, a "guitarra que apita" aparece aqui por vezes. A música tem uma sonoridade bastante interessante, com algumas notas dissonantes.
Faixa 10. Videotape. O desfecho de In Rainbows não poderia ser melhor. Completamente carregada em piano e voz, e com trabalho percussivo interessantíssimo, Videotape é uma das melhores do disco. A impressão é a de que a banda gravou um som de percussão orgânico e depois editou de maneira eletrônica, o que dá um efeito de bastante estranheza. Muita qualidade para o fim do disco.
Enfim, ao fim da "versão virtual" de In Rainbows, já conto os dias para dezembro, onde teremos mais obras de arte de uma banda que simplesmente carece de adjetivos. Radiohead.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Enfim, In Rainbows
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1 comentários:
Nossa, excelente resenha! ainda não pude baixar o cd mas ouvi duas musiquinhas e pela resenha já fiquei louco pra ouvir! Pena que o novo do REM que tava por sair não foi falado masi nada :(
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