(…)
O que é o meu Amor? Senão o meu desejo iluminado
O meu infinito desejo de ser o que sou acima de mim mesmo
O meu eterno partir da minha vontade enorme de ficar
Peregrino, peregrino de um instante, peregrino de todos os instantes?
(…)
(A Vida Vivida, Vinícius de Moraes)
O que é o meu Amor? Senão o meu desejo iluminado
O meu infinito desejo de ser o que sou acima de mim mesmo
O meu eterno partir da minha vontade enorme de ficar
Peregrino, peregrino de um instante, peregrino de todos os instantes?
(…)
(A Vida Vivida, Vinícius de Moraes)
VINÍCIUS DE MORAES. PROFISSÃO: POETA
Antes de quaisquer considerações sobre a obra de Vinícius de Moraes, vale abordar aqui um pouco da sua vida. Onde nasceu e morou, quais atividades desenvolveu, suas parcerias, etc.
Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 19 de outubro de 1913, onde também faleceu em 9 de julho de 1980. Formado em Direito no ano de 1933, não agüentou o Fórum por mais de um mês. Era crítico e censor de cinema, jornalista, músico e poeta. Foi nos anos 30 e 40 que Vinícius conheceu a glória literária e conviveu com uma das mais diversificadas e completas gerações composta por: Drummond, Bandeira, Niemeyer, Santa Rosa, Djanira, Aníbal Machado, e tantos outros que já faziam a história da literatura brasileira.
Iniciou sua carreira diplomática em 1946, quando toda essa fase de ouro foi interrompida. Entre 1958 e1960, Vinícius assume o terceiro posto da carreira diplomática em Montevidéu, mas o sucesso do compositor ao lado de Tom Jobim (com quem fez as músicas para sua peça teatral Orfeu da Conceição, encenada no Municipal) resultou em inúmeras solicitações do meio artístico. Entre outros parceiros, Vinícius de Moraes esteve com Pixinguinha, Adoniram Barbosa, Baden Powell, Chico Buarque e Toquinho (com quem teve uma parceria de mais longa duração).
Ainda no começo da década de 60, o poeta desenvolve intensa atividade no gênero pocket-shows, estréia como cantor e vende sucessivas edições de Antologia Poética. Ligado ao Itamaraty, em 1963 viaja para integrar a Delegação do Brasil junto à UNESCO, em Paris, mas regressa no ano seguinte. Daí por diante, e por pouco tempo, seu vínculo com o Itamaraty será apenas burocrático. Antes do fim da década, desliga-se completamente e volta ao jornalismo (crônicas, artigos e críticas).
A partir de então, Vinícius de Moraes passa a ser uma pessoa de domínio público. Com sucesso notório, o escritor traduz sentimentos e anseios de uma moderna e encantadora experiência amorosa. Ele vai além e é encarado como um símbolo que promove uma profunda mudança de valores (não somente literários e artísticos) pela qual vem passando a sociedade nas últimas décadas. Enfim, Vinícius é um “intérprete fiel de uma alma coletiva”.
Antes de quaisquer considerações sobre a obra de Vinícius de Moraes, vale abordar aqui um pouco da sua vida. Onde nasceu e morou, quais atividades desenvolveu, suas parcerias, etc.
Marcus Vinícius da Cruz de Mello Moraes nasceu na cidade do Rio de Janeiro no dia 19 de outubro de 1913, onde também faleceu em 9 de julho de 1980. Formado em Direito no ano de 1933, não agüentou o Fórum por mais de um mês. Era crítico e censor de cinema, jornalista, músico e poeta. Foi nos anos 30 e 40 que Vinícius conheceu a glória literária e conviveu com uma das mais diversificadas e completas gerações composta por: Drummond, Bandeira, Niemeyer, Santa Rosa, Djanira, Aníbal Machado, e tantos outros que já faziam a história da literatura brasileira.
Iniciou sua carreira diplomática em 1946, quando toda essa fase de ouro foi interrompida. Entre 1958 e1960, Vinícius assume o terceiro posto da carreira diplomática em Montevidéu, mas o sucesso do compositor ao lado de Tom Jobim (com quem fez as músicas para sua peça teatral Orfeu da Conceição, encenada no Municipal) resultou em inúmeras solicitações do meio artístico. Entre outros parceiros, Vinícius de Moraes esteve com Pixinguinha, Adoniram Barbosa, Baden Powell, Chico Buarque e Toquinho (com quem teve uma parceria de mais longa duração).
Ainda no começo da década de 60, o poeta desenvolve intensa atividade no gênero pocket-shows, estréia como cantor e vende sucessivas edições de Antologia Poética. Ligado ao Itamaraty, em 1963 viaja para integrar a Delegação do Brasil junto à UNESCO, em Paris, mas regressa no ano seguinte. Daí por diante, e por pouco tempo, seu vínculo com o Itamaraty será apenas burocrático. Antes do fim da década, desliga-se completamente e volta ao jornalismo (crônicas, artigos e críticas).
A partir de então, Vinícius de Moraes passa a ser uma pessoa de domínio público. Com sucesso notório, o escritor traduz sentimentos e anseios de uma moderna e encantadora experiência amorosa. Ele vai além e é encarado como um símbolo que promove uma profunda mudança de valores (não somente literários e artísticos) pela qual vem passando a sociedade nas últimas décadas. Enfim, Vinícius é um “intérprete fiel de uma alma coletiva”.
O VINÍCIUS DO AMOR E DA MULHER
Quando nos deparamos com as obras de Vinícius de Moraes, constatamos que o poeta tende a colocar o amor e a mulher no centro de seus interesses. Tais temáticas passam a ocupar um valor primordial em sua poesia, ao ponto de supormos que a experiência amorosa e o ser feminino ocupam o lugar da crença e da religiosidade, antes tão enfatizadas por ele em suas poesias. O autor imprime, de fato, uma espécie de divinização da mulher, transformando-a num ser superior; com isso faz com que o amor seja a experiência-limite, capaz de fazer com que o homem seja tirado de um ambiente inferior.
Essas facetas das obras de Vinícius apresentam vários pontos que nos remetem ao platonismo amoroso dos trovadores medievais, caracterizado pela idealização da mulher; recordam o amor espiritual dos românticos, assim como o “amor louco” dos surrealistas, o sentimento tido como supremo, acima de Moral ou Religião, etc. A concepção amorosa desse grande poeta, portanto, pode ser encarada como um ponto de convergência entre Trovadorismo, Romantismo e Surrealismo.
Vinícius de Moraes, assim como Camões, tentou fundir o amor sublime ao o amor físico. O poeta brasileiro tentou unir dois pólos tão opostos (amor idealizado + amor erótico) para recriar um terceiro (o amor completo). O que antes, no Romantismo, era impossível de acontecer – a corrupção do amor divinizado através do contato físico – no Modernismo de Vinícius de Moraes, o amor verdadeiro só pode ser concretizado quando ocorre a fusão do sentimento transcendente com o amor carnal. Obviamente, na poesia de Vinícius de Moraes, o amor é um jogo entre o intangível e o experienciado; entre o onírico e o real; entre o amor incapaz de corromper o outro e o que corrompe para existir e se constituir como Amor de fato. Esses elementos constituem textos carregados de desejo, ora da busca pelo sublime (transcendência), ora pelo encontro do cotidiano (imanência).
Quando nos deparamos com as obras de Vinícius de Moraes, constatamos que o poeta tende a colocar o amor e a mulher no centro de seus interesses. Tais temáticas passam a ocupar um valor primordial em sua poesia, ao ponto de supormos que a experiência amorosa e o ser feminino ocupam o lugar da crença e da religiosidade, antes tão enfatizadas por ele em suas poesias. O autor imprime, de fato, uma espécie de divinização da mulher, transformando-a num ser superior; com isso faz com que o amor seja a experiência-limite, capaz de fazer com que o homem seja tirado de um ambiente inferior.
Essas facetas das obras de Vinícius apresentam vários pontos que nos remetem ao platonismo amoroso dos trovadores medievais, caracterizado pela idealização da mulher; recordam o amor espiritual dos românticos, assim como o “amor louco” dos surrealistas, o sentimento tido como supremo, acima de Moral ou Religião, etc. A concepção amorosa desse grande poeta, portanto, pode ser encarada como um ponto de convergência entre Trovadorismo, Romantismo e Surrealismo.
Vinícius de Moraes, assim como Camões, tentou fundir o amor sublime ao o amor físico. O poeta brasileiro tentou unir dois pólos tão opostos (amor idealizado + amor erótico) para recriar um terceiro (o amor completo). O que antes, no Romantismo, era impossível de acontecer – a corrupção do amor divinizado através do contato físico – no Modernismo de Vinícius de Moraes, o amor verdadeiro só pode ser concretizado quando ocorre a fusão do sentimento transcendente com o amor carnal. Obviamente, na poesia de Vinícius de Moraes, o amor é um jogo entre o intangível e o experienciado; entre o onírico e o real; entre o amor incapaz de corromper o outro e o que corrompe para existir e se constituir como Amor de fato. Esses elementos constituem textos carregados de desejo, ora da busca pelo sublime (transcendência), ora pelo encontro do cotidiano (imanência).
SONETO DO AMOR TOTAL
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
(Vinícius de Moraes - Rio, 1951)
Amo-te tanto, meu amor... não cante
O humano coração com mais verdade...
Amo-te como amigo e como amante
Numa sempre diversa realidade.
Amo-te afim, de um calmo amor prestante
E te amo além, presente na saudade.
Amo-te, enfim, com grande liberdade
Dentro da eternidade e a cada instante.
Amo-te como um bicho, simplesmente
De um amor sem mistério e sem virtude
Com um desejo maciço e permanente.
E de te amar assim, muito e amiúde
É que um dia em teu corpo de repente
Hei de morrer de amar mais do que pude.
(Vinícius de Moraes - Rio, 1951)
No chamado Soneto do Amor Total, a idéia da transcendência está presente e pode ser vista nos terceiro e quarto versos do segundo quarteto: “Amo-te, enfim, com grande liberdade/ Dentro da eternidade e a cada instante”. Já a questão da imanência, nessa mesma poesia, encontra-se em toda a terceira estrofe: “Amo-te como um bicho, simplesmente/ De um amor sem mistério e sem virtude/ Com um desejo maciço e permanente”.
A BRUSCA POESIA DA MULHER AMADA
Longe dos pescadores os rios infindáveis vão morrendo de sede lentamente...
Eles foram vistos caminhando de noite para o amor – oh, a mulher
[amada é como a fonte!
A mulher amada é como o pensamento do filósofo sofrendo
A mulher amada é como o lago dormindo no cerro perdido
Mas quem é essa misteriosa que é como um círio crepitando no peito?
Essa que tem olhos, lábios e dedos dentro da forma inexistente?
Pelo trigo a nascer nas campinas de sol a terra amorosa elevou a
[face pálida dos lírios
E os lavradores foram-se mudando em príncipes de mãos finas e rostos
[transfigurados...
Oh, a mulher amada é como a onda sozinha correndo distante das praias
Pousada no fundo estará a estrela, e mais além.
Longe dos pescadores os rios infindáveis vão morrendo de sede lentamente...
Eles foram vistos caminhando de noite para o amor – oh, a mulher
[amada é como a fonte!
A mulher amada é como o pensamento do filósofo sofrendo
A mulher amada é como o lago dormindo no cerro perdido
Mas quem é essa misteriosa que é como um círio crepitando no peito?
Essa que tem olhos, lábios e dedos dentro da forma inexistente?
Pelo trigo a nascer nas campinas de sol a terra amorosa elevou a
[face pálida dos lírios
E os lavradores foram-se mudando em príncipes de mãos finas e rostos
[transfigurados...
Oh, a mulher amada é como a onda sozinha correndo distante das praias
Pousada no fundo estará a estrela, e mais além.
Nesse texto, nota-se o apego do poeta à figura feminina. Vinícius atribui características sublimes à mulher e faz com que ela seja o ser de onde provém e para onde convergem todas as outras formas elevadas, inclusive as da natureza.
SONETO DA FIDELIDADE
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
De tudo, ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.
Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento.
E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama
Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure
Na composição literária Soneto da Fidelidade, de Vinícius de Moraes, nota-se com clareza, ao ler a primeira estrofe, o tanto que o poeta deseja enfatizar que o amor é o único sentimento digno de cuidado e renúncia. O escritor menciona que ainda que ele próprio se veja diante do maior encanto, o seu pensamento, isto é, a sua mente se encantará mais pelo seu amor/ pela sua coisa amada.
Na segunda estrofe, há a exaltação do amor e o reconhecimento de duas vertentes opostas ligadas, diretamente, a esse sentimento. São elas: riso/ contentamento versus pranto/ pesar. A intenção da fidelidade caracteriza esse quarteto quando se identifica o compromisso da pessoa que ama com a pessoa amada, em ambos os ambientes.
No primeiro terceto, Vinícius aborda que, do mesmo modo que a morte é responsável por encerrar a vida, a solidão também encerra o amor.
Na última estrofe, o poeta traz à tona a questão do caráter temporário do amor comparando-o a uma chama de fogo (que rápido se apaga), mas desejando que mesmo sendo assim, tenha expectativa eterna enquanto esse sentimento existir.
Na segunda estrofe, há a exaltação do amor e o reconhecimento de duas vertentes opostas ligadas, diretamente, a esse sentimento. São elas: riso/ contentamento versus pranto/ pesar. A intenção da fidelidade caracteriza esse quarteto quando se identifica o compromisso da pessoa que ama com a pessoa amada, em ambos os ambientes.
No primeiro terceto, Vinícius aborda que, do mesmo modo que a morte é responsável por encerrar a vida, a solidão também encerra o amor.
Na última estrofe, o poeta traz à tona a questão do caráter temporário do amor comparando-o a uma chama de fogo (que rápido se apaga), mas desejando que mesmo sendo assim, tenha expectativa eterna enquanto esse sentimento existir.
Em suma, Vinícius de Moraes foi um grande poeta, entre tantas outras coisas que se propôs a ser. Suas poesias e canções expressam, realmente, o sentimento da alma coletiva brasileira e encantam, até hoje, pessoas de diversos países no mundo todo. Imortalizado pela parceria com Tom Jobim e a sua “garota de Ipanema”, o nosso poeta transformou, e ainda transforma, o ser humano com seus textos e músicas. Escreveu sonetos, compôs letras para a grande Bossa Nova, criou crônicas que falavam sobre o amor, foi um grande pensador, louvou sentimentos como a amizade, exaltou a mulher e o amor... Vinícius de Moraes nos deixou seu ideal poético, nos deixou poesia em forma de música e nos deixou, também, SAUDADES...
A MULHER QUE PASSA
Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! Como é linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicas
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
(…)
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
(…)
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?
(Vinícius de Moraes)
Meu Deus, eu quero a mulher que passa.
Seu dorso frio é um campo de lírios
Tem sete cores nos seus cabelos
Sete esperanças na boca fresca!
Oh! Como é linda, mulher que passas
Que me sacias e suplicas
Dentro das noites, dentro dos dias!
Teus sentimentos são poesia
Teus sofrimentos, melancolia.
(…)
Meu Deus, eu quero a mulher que passa!
(…)
Por que me faltas, se te procuro?
Por que me odeias quando te juro
Que te perdia se me encontravas
E me encontrava se te perdias?
(Vinícius de Moraes)
Dica para quem quer conhecer mais sobre a Vida e a Obra de Vinícius de Moraes:
O documentário brasileiro “Vinícius”.
1 comentários:
Oi, Karla Louise bem vinda ao blog, além disso belo texto. Existem diversas histórias interessantes a respeito de vinicius que vc poderia aos poucos colocar no blog, muitas desconhecidas do grande público, neste final de semana vou ver se consigo alugar o documentário, até logo
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