Adaptado de: O Globo impresso
Diretor retorna à sua Argentina natal para filmar "O passado", com o astro Gael Gacía Bernal
Aos sorrisos, o ator mexicano Gael García Bernal, de 28 anos, e o argentino naturalizado brasileiro Hector Babenco, de 61, diretor de "O passado", que estreou dia 26 de outubro, cumprimentam-se com um abraço caloroso. O filme foi exibido no Auditório do Ibirapuera na quinta-feira, 18, dando largada a 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, que vai até 1º de novembro.
Juntos em solo paulistado, Babenco e Gael se abraçam e sentam lado a lado, indirefentes à expectativa que cerca o novo longa-metragem do diretor de "Carandiru", que é ambientado em sua Argentina natal. Comparações com a produção - que, em 2003, arrastou mais de 4,5 milhões de pagantes aos cinemas - seriam injustas com o diálogo cinematográfico que Babenco travou com o romance homônimo do argentino Alan Pauls. O atual projeto, essencialmente intimista, não tem a mesma dimensão mercadológica que tinha o drama calcado numa das maiores tragédias brasileiras.
- Eu olhava o livro de Pauls e não via um longa-metragem. Mas Babenco, com sua experiência, extraiu um filme dele - elogiava Gael, o Che Guevara de "Diário de Motocicleta" (2004), que também exibe na Mostra seu primeiro trabalho como realizador, o longa "Déficit". - Babenco fez um filme sobre um homem que vive um autismo emocional.
- Quando telefonei para Pauls, dizendo que queria filmar "O passado", ele me disse: "Hector, você está louco. Não imagino alguém querendo fazer este filme". Mas eu não me interessava pela dimensão literária do romance, e sim pelo que estava vivo naquele texto. Com ele, estou visitando o Hector que ficou reprimido aos 28 anos. Para isso tive de ir ao espaço geográfico onde este homem ficou. Por isso, o filme foi feito na Argentina - explica o cineasta sobre a saga de desastres existenciais que cercam o tradutor Rímini (Gael Garcia) ao separar-se de Sofía (Analía Couceyro) após 12 anos de união.
A trama tem tudo o que se espera de um melodrama rasga-coração. Ao sair de casa na tenativa de refazer sua vida, Rímini divide sua cama com muitas mulheres. Passa de uma modelo ciumenta a uma colega experiente e apaixonada. Mas nenhuma das relações resistirá à sombra de Sofía.
Diretor tentou evitar o melodrama
O enredo até sugere que Babenco fez um bolero filmado, mas "O passado" flui para uma direção mais "desidratada", segundo o diretor:
- Eu sabia que estava lidando com os elementos do melodrama, que é um gênero genuinamente latino. Na história, há o abandono, a separação, a vulgaridade, a vingança. Mas eu não podia revisitá-los de uma forma clássica, uma vez que as telenovelas já esgotaram todas as formas triangulares e quadrangulares do amor. Precisava de uma coisa mais seca, sempre em elipse, Era uma maneira de descobrir o filme que havia no livro. Não sou um diretor que faz filmes para ilustrar teses. As teses são descobertas quando faço os filmes.
Com um orçamento de cerca de R$11 milhões, o filme chega ao circuito nacional com 60 cópias. Na abertura da mostra, quando passou para convidados no lotadérrimo Auditório do Ibirapuera, ele comoveu a multidão.
- É um filme muito bonito. Fico muito emocionado com ele - elogiava o cineasta Bruno Barreto, um dos muitos realizadores que saíram da exibição tocados.
Se o longa de Babenco repoduzir em suas exibições as reações que provocou na Mostra, um novo êcito de bilheteria pode se juntar às melhores performances nacionais de 2007, como "Primo Basílio", "Tropa de Elite" e "A grande família - o filme".
Escolado na reestruturação do mercado mexicano, Gael García Bernal traz números de público bastante similares aos das rendas nacionais recentes ao fazer uma analogia entre as cinematografias do Brasil e do México.
- Muitos filmes têm sido feitos hoje em dia no Méximo. E o melhor é que temos público para eles - diz o ator que estréia seu "Déficit" por lá e por aqui em 2008. - Os cineastas mexicanos contam com um instituto de cinema forte. Graças ao apoio do instituto, pelo menos 15 longas chegam ao circuito anualmente.
Uma fuga dos habituais temas sociais
Diretor diz que precisava filmar algo diferente de "Carandiru" e "Pixote"
Gael García Bernal não especula resultados para "O passado". Nem Hector Babenco. Por ter majoritariamente as loações em Buenos Aires - há só uma seqüência do filme ambientada em São Paulo -, a língua falada no longa é o espanhol, e não o português. Isso tem levado línguas ferinas a questionar o uso da expressão "filme brasileiro" para o filme, apesar de seu DNA nacional ser irrefutável. Babenco, que considera esse debate "xenófobo", lembra que co-produções multinacionais são fenômenos globais no audiovisual:
- Todo o cinema europeu da atualidade é feito em co-produção. Os filmes asiáticos também trabalham nesse sistema com a europa. Eu não vejo problema nisso, desde que não se deturpe a qualidade do produto final. E o produto final, o filme em si, me parece mais importante do que os meios com que ele é realizado.
(...)
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