'Pintora aos 4 anos' narra ascensão e queda da pequena Marla Olmstead.
Filme tem sessões nesta e na próxima terça (23 e 30) na Mostra.
“Até uma criança poderia fazer isso.” Mistura de preconceito e desconfiança com relação a quem dita hoje as regras no lucrativo e hermético mercado das artes, a observação é das mais corriqueiras quando se depara com uma pintura abstrata ou uma peça qualquer exposta em uma galeria de arte contemporânea. Mas no caso dos quadros de Marla Olmstead, que chegaram a ser vendidos por US$ 25 mil, a observação que antes poderia soar ofensiva ganha outro sentido: trata-se da mais pura verdade (ou não?).
“Pintora aos 4 anos”, documentário de Amir Bar-Lev que está sendo exibido na 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, conta a história da menina que virou manchete nos principais jornais e canais de televisão dos Estados Unidos em 2004 depois que suas pinturas foram descobertas por um galerista americano e descritas não apenas por ele mas por muitos especialistas e críticos de arte como obras de “um verdadeiro gênio” das artes. Em sua primeira exposição individual, Marla Olmstead, então com apenas 4 anos, teve todas as suas telas – enormes pinturas a óleo coloridas e... abstratas – vendidas para compradores que a comparavam a Jackson Pollock, Monet ou Picasso .
Incentivada pelo pai, ele próprio um pintor frustrado e sem talento, a menina vai produzindo um quadro após o outro e, em menos de um ano, torna-se um dos nomes mais quentes das artes americanas: no momento em que o popular programa de televisão “60 Minutes” decide fazer um perfil da menina-prodígio, o número total de pessoas na fila de espera para comprar uma pintura de Marla já chegava a 200. Dois dias após este mesmo perfil ir ao ar, entretanto, o número de encomendas chegou a zero.
Com a mesma velocidade com que se tornou queridinha no mundo das artes, a reputação de Marla despencou no momento em que a reportagem do “60 Minutes” colocou em questão a autenticidade de suas pinturas. Os produtores do programa acreditaram ter reunido evidências para supor que o pai da menina, Mark, seria o verdadeiro responsável pela “genialidade” da garota – por genialidade entenda-se o fato de ela pintar como uma artista abstrata adulta. Uma câmera escondida instalada no porão da residência dos Olmstead mostrou o que parecia ser Mark “dirigindo” o processo de criação de Marla.
E é nesse momento que, com a mesma transparência com que antes demonstrava empolgação com a história de Marla, o diretor do documentário passa a revelar suas próprias dúvidas sobre a autenticidade. Ao longo de mais de um ano de filmagens, Bar-Lev não conseguiu registrar a realização sequer de um quadro do começo ao fim. Ao contrário, em todas as vezes em que tentou, o resultado foram pinturas infantis que não passavam do que se esperaria de alguém como Marla, ou seja, de uma menina de 4 ou 5 anos. Seria ela apenas uma marionete das pretensões artísticas de seus pais? Teriam seus compradores sido enganados por um galerista oportunista e marketeiro? E quanto ao documentarista: não estaria ele sendo usado pela família como mais uma forma de dar legitimidade e credibilidade à história de Marla?
Como a sempre recorrente pergunta sobre o que é ou não arte, “Pintora aos 4 anos” não oferece respostas prontas. Não por falta de empenho de seu diretor, dos pais da menina ou mesmo de seus críticos em tentar provar o seu ponto. É que, como diz um crítico do jornal “The New York Times” entrevistado no filme, a única verdade que existe é aquela que se deseja contar. Se as pinturas de Marla – ou pelo menos creditadas a ela – um dia vão valer US$ 20 milhões ou se estarão destinadas a enfeitar a geladeira dos Olmstead daqui para frente, só o tempo e os próprios compradores serão capazes de dizer.
“Pintora aos 4 anos”, documentário de Amir Bar-Lev que está sendo exibido na 31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo, conta a história da menina que virou manchete nos principais jornais e canais de televisão dos Estados Unidos em 2004 depois que suas pinturas foram descobertas por um galerista americano e descritas não apenas por ele mas por muitos especialistas e críticos de arte como obras de “um verdadeiro gênio” das artes. Em sua primeira exposição individual, Marla Olmstead, então com apenas 4 anos, teve todas as suas telas – enormes pinturas a óleo coloridas e... abstratas – vendidas para compradores que a comparavam a Jackson Pollock, Monet ou Picasso .
Incentivada pelo pai, ele próprio um pintor frustrado e sem talento, a menina vai produzindo um quadro após o outro e, em menos de um ano, torna-se um dos nomes mais quentes das artes americanas: no momento em que o popular programa de televisão “60 Minutes” decide fazer um perfil da menina-prodígio, o número total de pessoas na fila de espera para comprar uma pintura de Marla já chegava a 200. Dois dias após este mesmo perfil ir ao ar, entretanto, o número de encomendas chegou a zero.
Com a mesma velocidade com que se tornou queridinha no mundo das artes, a reputação de Marla despencou no momento em que a reportagem do “60 Minutes” colocou em questão a autenticidade de suas pinturas. Os produtores do programa acreditaram ter reunido evidências para supor que o pai da menina, Mark, seria o verdadeiro responsável pela “genialidade” da garota – por genialidade entenda-se o fato de ela pintar como uma artista abstrata adulta. Uma câmera escondida instalada no porão da residência dos Olmstead mostrou o que parecia ser Mark “dirigindo” o processo de criação de Marla.
E é nesse momento que, com a mesma transparência com que antes demonstrava empolgação com a história de Marla, o diretor do documentário passa a revelar suas próprias dúvidas sobre a autenticidade. Ao longo de mais de um ano de filmagens, Bar-Lev não conseguiu registrar a realização sequer de um quadro do começo ao fim. Ao contrário, em todas as vezes em que tentou, o resultado foram pinturas infantis que não passavam do que se esperaria de alguém como Marla, ou seja, de uma menina de 4 ou 5 anos. Seria ela apenas uma marionete das pretensões artísticas de seus pais? Teriam seus compradores sido enganados por um galerista oportunista e marketeiro? E quanto ao documentarista: não estaria ele sendo usado pela família como mais uma forma de dar legitimidade e credibilidade à história de Marla?
Como a sempre recorrente pergunta sobre o que é ou não arte, “Pintora aos 4 anos” não oferece respostas prontas. Não por falta de empenho de seu diretor, dos pais da menina ou mesmo de seus críticos em tentar provar o seu ponto. É que, como diz um crítico do jornal “The New York Times” entrevistado no filme, a única verdade que existe é aquela que se deseja contar. Se as pinturas de Marla – ou pelo menos creditadas a ela – um dia vão valer US$ 20 milhões ou se estarão destinadas a enfeitar a geladeira dos Olmstead daqui para frente, só o tempo e os próprios compradores serão capazes de dizer.
31ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo
“Pintora aos 4 anos”, de Amir Bar-Lev
Terça (23), 17h, Unibanco Arteplex 1
Terça (30), 19h, Cine TAM
Fonte: G1
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