Na indústria do entretenimento, escrever é muito mais do que colocar palavras numa página. Os milhares de membros da Writers Guild of America (associação norte-americana de roteiristas), que entraram em greve por causa de um desacordo contratual na última segunda-feira, não largaram apenas roteiros de cinema e TV – eles também estavam criando textos para o programa de perguntas e respostas “Jeopardy!” e falas para “Dancing with the stars”.
Eles também editam o trabalho de seus colegas, dando mais vida ao texto como “formadores de opinião” de cinema ou fazem com que relacionamentos que estão acabando numa novela entrem nos eixos de novo quando desempenham o papel de editores de roteiro. Eles podem trabalhar sozinhos ou fazer parte de uma sessão de brainstorming completamente livre. As semanas de trabalho deles podem ser de organizadas 40 horas ou de mais de 80 horas, em ritmo alucinado.
O pagamento pode ser de US$50 mil por um roteiro original ou ultrapassar US$1 milhão para um roteirista de primeira linha ou roteirista-produtor encarregado de um programa de TV que é um sucesso. E, ao contrário do que se acredita, nem todos os roteiristas estão alocados na ensolarada Los Angeles: dos 12 mil roteiristas registrados na Writer´s Guild norte-americana, cerca de 4 mil pertencem à associação do leste dos EUA.
A maioria dos reality shows não pertencem a nenhum sindicato e filmes independentes podem ser feitos fora do escopo da associação, mas muito do que o público assiste é trabalho de roteiristas associados a ela. Seu esforço também aparece em DVDs, com a grande brecha de compensação para mídia antiga versus digital como cerne das disputas contratuais. O caminho que os roteiristas trilham em sua carreira pode ser tão dispare quanto seus empregos, como demonstrado com os cinco roteiristas abaixo.
Bill Scheft, que há muito tempo escreve os monólogos do "Late Show with David Letterman", da rede Americana de TV CBS.
Nascido em Boston, se formou em Latim em Harvard (“achei que a Igreja ia voltar ao poder”, diz ele brincando) antes de embarcar numa breve carreira como cronista esportivo e uma mais longa como comediante do estilo standup em Nova Iorque. Ele se candidatou cinco vezes ao Letterman Show, então na NBC, sendo rejeitado em todas elas. Em sua sexta tentativa, quando o programa precisava de um monólogo, Scheft foi contratado. Isso foi há 16 anos.
Seu objetivo era “ficar sozinho numa sala escrevendo piadas”, disse Scheft, 50 anos. Essa é uma descrição literal de suas condições de trabalho. “Eu adoro o “Dick Van Dyke Show”, mas isso acabou solidificando uma idéia pré-concebida das pessoas sobre a maneira como as coisas funcionam”, disse ele. Roteiristas de sitcom discutem idéias entre si; esse não é o procedimento num programa noturno, em que os redatores geralmente trabalham sozinhos.
“Cinco caras numa sala trabalhando num texto não gera tanto material quanto cinco caras trabalhando em cinco salas diferentes”, disse Shceft, parte de um quinteto de redatores que ajudam a produzir o monólogo de Letterman. Os roteiristas trabalham com um contrato de 13 semanas e se ele não for renovado, são avisados com um mês de antecedência. Para garantir seu seguro médico, eles precisam atingir a faixa salarial de US$35 mil. “Muita gente já entrou e saiu desde que estou lá”, disse Scheft.
Simons estudou teatro na Universidade de Indiana e seguiu seu sonho de ser atriz com uma longa participação na novela “Search for Tomorrow”. Quando outra atriz decidiu tentar escrever para a TV em 1980, ela levou Simon junto. “Eu gostei e passei a trabalhar a partir daí”, disse Simon, que tem trabalhos de roteirista e editora em nove programas, entre eles “All my children”, “General Hospital” e “Guiding Light”.
Atuando como editora de roteiros em “As the world turns” desde 2000, Simon é responsável por ler cada roteiro verificando a continuidade, qualidade e fazendo “as edições de texto normais que devem ser feitas”. Ou seja, o estúdio a convoca para escrever cenas. Trabalhando quase sempre em casa, Simon vai ao estúdio uma vez por semana para se encontrar com o produtor executivo do programa, com um representante da rede de televisão e com o roteirista chefe.
Uma equipe de argumentistas produz idéias gerais para uma semana de programas, e cada um desses argumentos é encaminhado a um roteirista diferente. O roteiro então é encaminhado para as mãos de Simon, num processo que deve fluir suavemente para produzir uma hora de angústia para cada dia da semana do ano. Férias são raras. “Tento não trabalhar nos finais de semana”, disse Simon, “quando dá”.
Price, 45 anos, foi aconselhado pro sua mãe a ser contador porque era bom com matemática. “Foi a última vez que dei ouvidos a minha mãe”, disse ele. Um trabalho num laboratório de fotografia em Nova Iorque quando estava recém-saído da faculdade lhe rendeu uma produção de vídeo para artistas de performáticos, depois, trabalho de assistente de produção em filmes e comerciais.
Ele foi indicado para um emprego na MTV, onde trabalhou como redator e supervisor de roteiro e ganhou mais em treinamento do que em salário (chegando ao máximo de US$850 por semana). Ao se mudar para Los Angeles no início dos anos 90, ele começou a escrever como freelancer, vendendo roteiros para séries incluindo "Star Trek: Voyager" e um filme para o Disney Channel chamado "The Luck of the Irish."
Com um produtor com quem ele havia trabalhado, foi trabalhar em “Jeopardy!” – um
dos poucos game shows com cobertura da associação de escritores – na posição de roteirista chefe há 10 anos, Price também foi para lá, começando como pesquisador. Há três anos, ele se tornou parte de uma equipe de 10 pessoas. “O que quer que te interesse naquele dia” pode acabar se tornando uma das categorias do show, disse Price.
Se sua filha está estudando anfíbios, ele disse, os telespectadores que assistem a “Jeopardy!” recebe a mesma aula. Se por um lado o salário variando entre US$75 a US$100 é relativamente modesto em termos de Hollywood, há outros benefícios, incluindo uma atmosfera agradável para crianças. “Me sinto em casa aqui”, disse ele.
Devon Shepard, roteirista das séires “Weeds” e “Everybody Hates Chris”.
Quando o talk show de Dennis Miller foi cancelado, um assistente de produção decidiu fazer comédia standup testando seu material com platéias numa barbearia do centro sul de Los Angeles. Rob Edwards e Bennie Richburg, roteiristas de “The Fresh Prince of Bel Air” pararam, provaram um pouco da sagacidade cômica de Shepard e o convidaram a ser roteirista trainee do novo show de Patti LaBelle, o “Out All Night”, da NBC. De lá ele passou para sitcom “Fresh Prince”, de Will Smith. “Eu não olhei mais para trás”, disse Shepard, membro da Writer´s Guild há 16 anos. Outros créditos do roteirista incluem “The Waylans bros.”, “Mad TV” e, mais recentemente, “Weeds”.
Ele foi consultor de produção na sitcom “Everybody hates Chirs”, produzida por Chris Rock. No começo, há a idéia para uma história. Os roteiristas e produtores tanto de “Weeds” como de “Chris” se reúnem no estúdio para apresentar tramas e subtramas. Quando uma idéia é aprovada, ela é encaminhada para um roteirista da equipe. Roteiristas de séries ganham no mínimo US75 mil por temporada e em geral têm uma garantia contratual de que escreverão um ou dois roteiros, o que pode lhes render US$17.500 por roteiro. “Gosto de escrever em casa”, disse Shepard. “Eu não consigo escrever no escritório. Há muitas distrações”.
Leight, 50 anos, de Nova Iorque, estudou comunicação na Universidade de Stanford “na ilusão de que iria me formar e me tornar jornalista profissional”. Em vez disso, ele escreveu artigos como freelancer, escreveu para um grupo de comediantes, para a TV e para alguns cineastas de segunda linha antes de se voltar para o teatro.
Sua peça de 1999 “Side Man” foi nomeada ao prêmio Pulitzer e ganhou um prêmio Tony. Selecionado para se juntar ao drama “Law & Order” em 2003, Leight começou como membro da equipe de redatores e – porque “ninguém queria subir na hierarquia” – acabou se tornando o produtor e responsável por gerenciar o programa no dia-a-dia. “Sou o cara que tem a responsabilidade final e não tem mais pra quem passar a bucha”, disse ele.
Em sua semana de trabalho de 65 horas, em média, menos que as 80 e poucas de quando começou, ele assiste aos ensaios e formula recriações instantâneas de texto, planeja episódios futuros com o roteirista designado para escrevê-los e apaga diversos incêndios. Uma locação, por exemplo, pode não ser mais possível ou um dos astros “pode estar tendo um dia ruim e eu tenho que aliviar suas preocupações”, disse Leight.
Tradução: Luiz Marcondes
Coppola toma partido de roteiristas e critica grandes estúdios
O diretor de cinema americano Francis Ford Coppola tomou partido, nesta quinta-feira (8), na greve de roteiristas nos Estados Unidos ao criticar os grandes estúdios por monopolizar os ganhos que os filmes e outras produções fora de cartaz rendem aos executivos.
"Cedo ou tarde, as grandes companhias vão ter de reconhecer que esta prática de ficar com este dinheiro a mais não é aceitável", disse o diretor de "O Poderoso Chefão" num fórum empresarial realizado na capital mexicana.
"Agora os filmes não fazem dinheiro só nos cinemas, mas com os DVDs e os lucros conexos", declarou Coppola.
Apesar das volumosas bilheterias de alguns filmes ("quantidades impressionantes") uma vez deduzidos os custos de filmagem e publicidade, elas acabam "não sendo tão" grandes, afirmou o cineasta.
A margem de lucro real, disse Coppola, está nos chamados lucros conexos, gerados a partir da comercialização de DVDs e da exploração do filme em outras plataformas.
Os roteiristas de cinema e televisão dos EUA, em greve desde segunda-feira, exigem que as redes de TV dividam com eles os ganhos obtidos com o download de séries na internet e venda de DVDs.
A indústria televisiva e cinematrográfica, representada pela Alliance of Motion Picture and Television Producers (AMPTP), afirmou, após a suspensão das negociações com o sindicato dos roteiristas, o Writers Guild of America (WGA), que os produtores estão preparados para uma greve prolongada
"A greve se fundamenta numa divisão mais justa dos ganhos conexos (...), porque neles estão o lucro", disse o veterano diretor.
Coppola declarou ainda que os altos salários dos executivos e os bônus que eles ganham são pagos com o lucro abundante gerado pelo mundo do cinema.
O diretor também destacou o lado positivo de produzir seus próprios filmes, como forma de evitar gastos supérfluos, que acabam no "bolso do irmão de alguém do estúdio".
Fonte: G1
2 comentários:
estao certos os roteiritas, ganham muito pouco pelo brilhante trabalho que fazem, pensa nos caras que fazem o Heroes, os caras sao muito inteligentes, e geram milhares para a Industria Cultural, que nao os paga na mesma proporçao. Apoiado
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